domingo, 19 de junho de 2016

UM GRITO DO CÉU

Um grito vindo do céu
(conto)

Ouviu-se, e deste estrondo singular um anjo destituído se fez carne para ser igual e, ao que o anjo suporia dar conta, se fez homem. Um sofrimento descomunal, e, foi assim que ele descreveu a tudo o quanto descobriu sobre aquela mulher, no final:

Você pensa que sempre me enganou, se enganou… Sempre, mesmo, nunca fui seu. Formulei com as minhas afirmativas de amor e de amá-la, para salvá-la, salvá-la de seu desamor, porque ao valorizá-la pensei em fazer-lhe amar-se a si mesma, afinal, dissera-me, “eu não me amo” Queria, eu, tirá-la desta incapacidade de saber deste rico sabor do amor, então em minhas súplicas, tive o comando do criador. “Vá, se quer, mas não posso lhe ajudar!” Ainda que houve as ressalvas, foi de meu amor que lhe dei, que quis lhe preencher.

És neurônica pelo desamor, tanto que ao que se recusas, escraviza-se a ele, ele é o medo e o ódio dos homens que em si, deles, tenta esconder ao tentar dominá-los. Matasses seu pai do céu, ainda que ele para lhe salvar, lhe deu a ele, na primeira pessoa de seu ancestral, você o recusou! Depois vieram outros em sua vida, como a cria que abomina, como o pai que pisoteia, como os amantes que lhe usaram, e o que mais você odeia…

Você odeia a doença mental e física que lhe corroí, e a pobreza que lhe abraça, essas, não sabe ou finge não saber, advieram do próprio ódio que cultua, do próprio desamor que, sei, reconhece, e renegas combatê-lo da forma correta… Preferes a vingança sórdida. Você somente tem força em mantê-la, sei, entretanto, que embora seja você, não é você que lhe domina, mas é tão somente aquela que se entrega. 

Sinto pena de você! Porque ao me “vencer” torna-se automaticamente a perdedora “eu não lhe mereço” lembra-se? Não veria ao caso, porque de fato eu jamais fui seu, fui deste amor que lhe dei.

Ao perguntar a Deus, de novo, se devia, ao menos ser seu amigo, ele me respondeu em evasiva, com um muxoxo: “Vá, se quer, mas não poderei lhe ajudar!” Talvez ao analisar a questão dada pela inteligência, de que somente os inteligentes mudam, se eu não lhe aceitar como amiga, estarei sendo incoerente, e portanto, hipócrita. 

Assim sendo, entretanto – de novo –, há um paradoxo: aceitando-lhe como amiga, se houvesse a grandeza deste amor, na proporção da dor, esta, mais se alongaria, indefinidamente. “Eis, talvez, que ser, a minha paga por meu ‘fracasso”.

O que mais me fez ser seu temor foi o peso da verdade sem travas que sempre lhe desnudei. Nunca às suportasses. Se as encarasses tornarias um ser divinal, mas…Preferes, ao que parece, ser profana, odiosa, que mente, que engana, que se faz de vítima, que vitimiza a todos que lhe circunda, você não se perdoa. 

E nesta própria pessoa imperdoável em que se atém, as artimanhas do calor do sexo, as deliciosas carícias, a voz aveludada, a supervalorização do outro com os mais aparentes sentimentos sublimes, mas, vis. Seu canto lindo, seus urros de êxtases… Em quais momentos fora você?

Moldou-se com mármore de carrara, este seu coração de pedra. Afirma-se para se furtar da mudança uma dualidade obtida pelas teóricas intelectuais, reafirma não poder aquilo que poderia se não se deixasse ser fraca e dominada por seu próprio demônio que em si mesma criou. Determinou-se que todos haviam de lhe pagar. Mas, talvez, Deus tenha lhe dado o ultimato – oro que não seja: lhe quero feliz! –,contudo, não posso determinar a Deus a sua justiça. 

Porém, agora, como amigo, posso lhe dizer tudo, porque ao ser seu amigo, mais ainda, não posso lhe furtar a verdade. E, saiba: estas verdades são incomparáveis com as suas, porque não são errôneas. Não são baseadas no ódio que cultua, mas sim, no amor Divino que lhe dei.

Em tempo: você não conseguiu me vencer nem me matar, como o seu ódio lhe determinava. Você me perdeu como homem que me tornei para ser lhe anjo. O único que lhe poderia salvar, por que sou o que sou, e o que sou lhe foge a compreensão dada a sua venda cerebral pelo próprio ódio que lhe consome. Há um Deus chamado amor dentro de mim. Mas ao contrário do que todos preferem pensar, Deus não nos perdoam, mas nos aceitam diante de nossos esforços verdadeiros em sermos melhores. Caso contrário nos abandonam!

É nisso que este Deus aparece como amor verdadeiro, pois que ao nos aceitar, administra, à conta-gotas, o que nos são suportáveis. Há no positivismo, esta máxima inconteste, e, por seu livre arbítrio lhe compete praticar. De qualquer forma, vá em frente, se preferes assim –, e lhe digo: sempre poderei lhe ajudar, se quiseres abraçar o amor!

E assim, o alado ele, colocou a sua carta explicativa no correio eletrônico e depois se desvês das asas invisíveis, que lhe dava o poder de espionar todas as mentiras, e todas as verdades e todos os enganos dos humanos. Seu poder só não podia mudar o livre arbítrio dela. Tornou-se simplesmente um homem quase sem as sombras dos poderes...

Deste dia à frente, se pôs, então, a vagar, nesta vulgaridade dos comuns transeuntes, que caminham a esmo pelas passarelas e escadarias do Masp e da Biblioteca Mário de Andrade, sempre a procurá-la por ali, e, ao se cansar, corre a ir dormitar sobre a Divina Comédia de Dante. …Como vemos, restara-lhe ao menos, diante do sono e do cansaço, a dignidade em poder se retornar espectro.


ZéReys Santos.






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